hoje eu vou fazer diferente
vou chorar deitada no chão de casa
minha mãe viajou, se ausentou por uma semana
e é um pena que eu e você não estejamos juntos
porque poderíamos passar 7 dias transando
eu já tinha planejado um tanto:
aquele vinho branco pra não atrapalhar seu clareamento dental
aquela calcinha nova, talvez uma streap tease
bom, tanto faz
não vai rolar
assim, nessa semana free, não consigo ver muita graça
posso ouvir tv alta, monopolizar o laptop, não lavar os pratos...
mas eu nem mesmo quero sujá-los!
então, grande merda
minha mais útil liberdade é poder chorar tranquila, deitada no chão de casa.
Às vezes me encho de saudade, remorso, me ponho a espiar a janela de 5 em 5 minutos.
Basta, no entanto, fazer uma breve retrospectiva dos acontecidos e a cólera, paradoxalmente, me devolve ao meu eixo.
O mais incrível é perceber o prazer alheio na nossa dor.
Sei que não foi simplesmente algo como "estou bêbada, sozinha, a fim de dar, foda-se a namorada dele". O que houve e há é uma satisfação mórbida em ferir, em "roubar" um pedacinho do que nunca se conseguiu ser ou ter honestamente.
As mulheres são bichos estranhos mesmo. A depender delas, a inveja move montanhas.
que coisa mais estranha
que tristeza
que angústia
eu queria era estar construindo algo
não parada olhando as pessoas me atropelarem
ou mesmo atropelando as pessoas
estou frustada porque nada do que tenho agora me é suficiente
ou forte
ou arrebatador, digo, apaixonante
ser colérico não é ser apaixonante
passar mal não é amar
e, com o que tenho, não sei o que fazer
por ter o que tenho em mãos, não sei o que fazer
se não existissem opções, já estava decidido
ou pelo menos eu poderia olhar pra tudo isso com mais discernimento, menos névoa
existindo - tantas! - me confundo e me perco
me embaralho toda
e realmente fico sem saber o que constitui o real, o que vale a pena.