o que os olhos não veem,

À prova final da disciplina de História da Arte a ser realizada amanhã.

Ventinho, movimento de carros, incomodos no estômago: estou entregue à esse não-sei-o-que de princípio de noite numa terça-feita - enquanto deveria estar estudando.Descongelo alguma coisa do freezer, janto e providencio um brigadeiro pra sobremesa enquanto penso nos planos que estou a ponto de desfazer: e se eu quisesse mesmo ir estudar na Espanha?...

Ainda que eu tenha acordado hoje pra ver o mundo, ainda que eu tenha levantado pra ver os ladrilhos do chão, os sapatos da vitrine- verdadeiras obras de arte, às vezes-, ainda que tenha levantado pra observar os detalhes, que tenha levantado por uma causa tão bela e nobre, há algo em mim deslocado.Hoje, eu estou fora do tempo- e antes fosse só um óculos retrô e um cinto de bolinhas.Procurei uma música adequada e nada me dizia, sabe?Belchior foi o que chegou mais perto.Não sei.Talvez eu devesse mediocrizar mais meu dia, pra não sentir o ruim.Mediocrizar assim: -Uma Coca-cola.Light, por favor.

Esse mistério crescendo em mim.Não se trata do menino, sou eu mesma.Canto leve e pesado, sabem?Imito os pássaros.Mas eles têm as árvores, e têm as penas.O que faço eu, desprotegida?Face queimando, agora pelo menino, talvez.Tenho contado as coisas: um tanto dos sonhos, um tanto das verdades, um tanto das horas...Não guardo os resultados, só a angústia: estão passando, estão passando...Quanto tempo é uma semana quando dizem "uma semana"?...

Ele é(era?) uma experiência pra mim: até onde vai meu atrevimento, esse meu (falso?) espírito de menina-mulher-segura?
Mas eu gosto de lembrar, gosto de pensar: ele podia simplesmente não ter sentado, não ter atendido meu pedido ou, tendo atendido, podia ter fugido em seguida.Mas ele ficou, ficou e falou simples: "que bonitos teus olhos".Eu lembro que foi lindo e aí realmente lamento ter bebido tanto, porque eu queria lembrar disso melhor- o álcool ajudou até certo ponto.Lembro que eu pude dizer o mesmo: os olhos dele eram de um azul claríssimo.Eu brinquei com ele e falei meia dúzia de besteiras que provavelmente eu me arrependeria, caso lembrasse.Lembro que depois de ouvir uma delas ele riu e perguntou quantos anos eu tinha, eu, sendo devidamente infantil, fiquei calada e devolvi a pergunta.Ele: "quantos tu me dá?", " uns 22 ou 23", disse, cheia de certeza, então ele de novo, sorriso leve no rosto: "quantos tu tem, menina?", eu: "19.e tu, por fim?", "27", respondeu rindo mais, como se achesse aquilo um tanto absurdo.Eu, por minha vez, fiz minha cara de menina-de-19-anos-quando-fica-com-caras-mais-velhos, algo como: "ah, nem acho a diferença tão grande assim", mesmo achando um pouco talvez, mesmo gostando de achar. Depois, fazendo mesmo o papel de cara de 27 anos num bar às 5:30 da manhã, ele anunciou que "já" iria.Eu confessei querer ficar mais e convites foram feitos: "quer ir pra minha casa?", e respondi: "tenho uma mãe me esperando...(não que eu tivesse realmente, até porque ela estava viajando, mas outros motivos, como o fato de ter duas amigas com planos de dormir na minha casa, me empediam de ir) quer ir pra minha?", ele topou, mas quando deveríamos partir uma das amigas passava mal e tivemos que aguardar.Então, novamente os ossos dele devem ter lhe lembrado da sua idade(é a melhor das hipóteses, de certo), pois de novo ele disse: "já vou".Achei melhor não insistir: "tá, mas quero te ver depois".E de novo: "eu vou embora", "tá certo( entendi,oras)","eu vou embora do Recife, menina", "(ahhhh, do Recife!)do Recife?é?pra onde?", "pra Itália", "(eita, que loooonge.) é?fazer o que na Itália?", "um filme".Suspiros- é que eu realmente precisava revê-lo.Ele sugeriu: "pega meu telefone.ou quer que eu pegue o teu?tem caneta?".Não tínhamos caneta.Eu peguei o dele.E ele: "diz o teu, tenho boa memória", "ah, certo, é fácil: 32414182", "ah, é. dobra, né?", "a-ham, viu como é fácil?".E aí ele foi de fato, e só aí eu percebi que meu telefone não dobrava coisa nenhuma, e só aí eu percebi que eu tinha dado o número errado.É.E tinha ainda o que fazer?...Lembro meio vagamente dele ter elogiado meu beijo, lembro, embora também vagamente, do próprio beijo: era um beijo bom.Lembro: geminiano, viajante, cineasta...É claro que falei do filme, Antes do Amanhecer, e disse: "Sabia que a gente pode ser almas gêmeas, menino?, mas provavelmente não." Ele riu.Falei da música de Raul.Falei que ele tinha um nome bonito- tinha mesmo.Ele também falou que gostou do "Maíra do Egito"e...
e,
e!
e?
...
Tem fim?

, então é melhor deixar a janela aberta, é melhor deixar a janela aberta e correr o risco da companhia indesejada dos insetos do que me proteger e não ver a vida.É que, tanta coisa, olha só: os carros passando, as buzinas, as risadas, o cantar de qualquer pássaro.Sabe?Sabe?...

Baby, eu juro que eu tentei, eu juro que eu tentei ser uma menina aplicada e obedecer às tuas regras bobas: "-viver um dia após o outro", "-não me envolver".Mas é que a vivênvia gradual daqueles poucos dias acabou sendo tão envolvente, sabe?...Sorry about it.=)






(Ok.Ok.Ok.Roubando um pouquinho daquele bom-senso, eu lhes prometo: último post sobre isso, certo?\o/[eba!])

Eu entrei no clima.Fiz um drama.Fiz realmente tudo que podia fazer.Deixei cair duas lágrimas.
Que seja então.Que seja assim.Feio e sem fim.Como algo desejado e não-vivido.Como Placebo tocando e um reggae interrompendo.
E então eu lavo minha mão.Assim como eu lavei minha boca, daquele beijo imbecil.É, eu admito.E ainda estou bêbada(não precisei da sobriedade pra concordar).E, meu deus, eu estava tão bem.Eu juro(assim como você me jurou estar morrendo de sono e sem raciocínio, outro dia).Eu juro.Que eu não precisava disso.E criei.
Vamos apagar tudo?Como num sonho bom?Ou num pesadelo ruim?Vamos apagar tudo, como num vômito, onde tudo que te faz parte some( a descarga leva!)?

Eu queria(como eu queria).Ser mais idiota.Ou menos.Eu queria fingir não ligar e dizer que o dia nasceu lindo pra mim.Mas está tudo tão nublado.Tudo.

Eu parei minha vida um instante pra você passar.

E você passou.




Porque diabos você tinha que ser tão sensato?